segunda-feira, 18 de agosto de 2008

(re)partida

Bella. Com dois eles. BeLLa. Cabelos castanhos, olhos cor de folhas com mel. Pele pêssego, boca morango, sorriso algodão. Uma coisa. Mas dentro daquela cabeça tão saborosa moravam fantasmas. Fantasmas que ela sabia que estavam ali, mas que tentava ignorar. Eram fantasmas inquietos, que insistiam em perturbá-la, dizendo que ela não pertencia ao mundo que ela via e que ela não era feliz e que ela tinha que ir com eles e ninguém te entende e ninguém te vê e você é fantasma também. Mas ela, beLLa, dizia que não. Que havia família, que havia amigos, que havia planos, que havia flores, havia sol. E os fantasmas riam dela. E ela tentava provar pros fantasmas que o mundo que ela via era real, era bom. E ela procurava. Achava o sol, achava as flores, tentava criar planos, tentava fazer amigos, e na família, só o pai. Aquele pai que carregava o mundo nas costas sozinho. E o mundo é muito pesado pra um pai carregar sozinho, não podia fazer isso com ele, tinha que diminuir aquele peso. E cadê os amigos? Não tem. E cadê os planos? Não tem. Só tem o pai. Nem mais sol, nem mais flores, só o pai, a dor de ser pesada e os fantasmas lá, sentados em sua cabeça, esperando por ela e rindo, mostrando que tudo é engano, que tudo é erro nesse mundo de carne, osso, pêssego, morango e algodão.

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