sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

2011

"Quem teve a idéia de dividir o tempo em fatias foi um individuo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Por que doze meses dão para qualquer ser humano entregar os pontos. Ai entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui por diante vai ser diferente"


(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)


E o ano novo (já) chegou.

Todo ano recebo esse texto que fala sobre a divisão do tempo em fatias, e a ideia de um “novo tempo” só reforça a vontade de tratar o tempo como alguma coisa concreta, palpável, que a gente pode chamar de novo ou velho, como se fosse um pedaço de pano, um retalho, que serve ou não serve, que vai ficar na colcha pra sempre ou vai para o lixo com os outros pedaços que não serviram em lugar algum.

Eu andei pensando sobre a rapidez com que o tempo tem passado e, coincidentemente, saiu na revista
Superinteressante deste mês uma reportagem sobre destino que, entre outras coisas, diz o seguinte:

A passagem do tempo é uma ilusão. O futuro existe agora mesmo. E é tão imutável quanto o passado. (...) Isso acontece porque a forma como os indivíduos percebem a passagem do tempo muda conforme eles se movimentam. Foi o que Einstein descobriu: quando a sua velocidade aumenta, você corre em direção ao futuro mais rápido do que quem está parado. Se você vai de bicicleta até a padaria, chega lá mais no futuro do que se tivesse ido a pé. (...) Sob as velocidades do dia a dia, o efeito temporal é minúsculo, mas existe” (p.42)

Ou seja, uma explicação para essa sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido já foi apontada por Einstein de uma forma que podemos dizer que isso não é uma sensação, mas uma realidade. O tempo passa mais rápido porque estamos fazendo cada vez mais coisas em fatias menores de tempo, daí chegamos mais rápido ao futuro, que se confunde com o presente, que logo se junta ao passado (já que as distancias estão cada vez menores)... e isso tudo me remete a
Carl Honoré, que há anos se dedica ao movimento de desaceleração do mundo. A primeira vez que li a seu respeito (também na Superinteressante), a notícia era a de que ele organizou a seguinte manifestação : em alguma grande capital do mundo (não me lembro qual), pessoas atravessariam a rua com tartarugas em coleiras. Depois disso virei grande fã de suas idéias, e o vídeo abaixo é a palestra dele no TED, Ideas Worth Spreading, em 2005





Então, essa onda de fatiar o tempo serve só pra gente contabilizar, tratar de quantidade. E geralmente a gente contabiliza mais o tempo que perdeu do que o tempo que ganhou, já que hoje em dia é muito difícil ganhar tempo – seria até legal se fosse como nos videogames : nosso quadradinho de tempo/vida aumenta quando fazemos alguma coisa direito... Mas o que quero dizer é que eu desejo em 2011 que, como propõe Honoré, a gente pare de se preocupar com quantidade e se importe verdadeiramente com a qualidade de nossas realizações, sejam elas quais forem.

Que 2011 seja um ano bem lento! Beijos a todos!