sábado, 30 de agosto de 2008

Finlandês e a cabecinha

(banda finlandesa "TENHI" de folk progressivo )

!!! ??? !!!!!!!!!!!!!!!!



Minha consciência fala mais de uma língua. Eu entendo bem o português e o inglês. El español más o menos . Mas várias são as vezes em que ela fala comigo em francês. É por isso que eu PRECISO aprender francês. Porque eu percebo uma importância quando ela começa a falar comigo em francês. Mais je ne comprends pas...

É por isso também que eu parei de beber. Quando eu bebia ela vinha em línguas nórdicas. Pra cerveja, o alemão: “mit dem Trinken aufhören”, ela dizia... e eu não entendia.... MIT DEM TRINKEN AUFHÖREN!!!! E eu ria... ria...KKKKK!!!! Sem a menor noção do que ela tava dizendo... ! E pra vodka, o finlandês: “lopettaa juominen, LOPETTAA JUOMINEN!!!!” Aí eu até assuntava um pouco mas achava graaaaaaçaaaaaa e depois esquecia tudo... kkkkk kkkkkkkk. Até que um dia, eu estava sóbria, era uma quarta-feira de manhã, e ela começou a falar comigo em finlandês :

HUOLEHTII SINUSTA ENEMMÄN!!!

Fiquei chocada.

Aí, com medo da minha consciência falar finlandês pra sempre, eu parei de beber... agora é só o Frances, mesmo, que eu não entendo...


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Qui suis je?

E esse mundo tão grande? Com não se perder nesse mundo tão grande? Tem sempre alguém pior que eu; tem sempre alguém melhor que eu... E eu?

Boa ou ruim de fato? Boa, porque não desejo o mal, compreendo e aceito as falhas, acreditando que a perfeição, se for um ideal, serve apenas para frustrar qualquer um que a espera? Ou ruim, por ser egoísta, por não me comover com a dor do próximo, acreditando que cada um tem a sua cruz para carregar, e a qualquer possibilidade de pesar a minha cruz ( que é leve, leve) com algo alheio, corro, como o próprio diabo?

Feliz ou triste? Feliz por ter saúde, trabalho, família e um amor, ou triste por esse amor ser tão longe, tão fora do meu alcance, me matar de ausência e me deixar oca por dentro?

Culpada ou inocente? Inocente por ser tolerante com o próximo, ou culpada por tolerar um próximo que me esgota completamente?

Excepcional ou medíocre? Excepcional por conseguir me virar sozinha, ter uma profissão e não ter patrão? Ou medíocre por saber que estou longe de dar o meu melhor e, ainda por cima, ter uma vontade louca de largar tudo pra trabalhar num brechó em N.Y., só pra ficar vendo as pessoas e os dias passarem ouvindo música, mascando chicletes e, principalmente, sem pensar de mais...
Je ne sais pa....

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cigarro I

Lurdinha , nervosa, quase tremendo, parou na banca e catou suas moedas no fundo da bolsa. Não dava pra comprar os dois. Então ficou em dúvida entre o chocolate e o cigarro.

Sentou no meio fio e, olhando para os carros que passavam na avenida, bem perto de seus pés, ficou se lembrando de seus três últimos namorados.

-Namorados porra nenhuma. Disse, soltando a fumaça com raiva. O único que prestava era o R. Quer dizer... prestava mais ou menos. Era bom. Muito bom. Só me envolvi com ele porque tava numa fase de crise de consciência. precisava agradar minha mãe. Mostrar pra ela que eu era capaz de arrumar um namorado que desse pra apresentar pra família e levar nas festas de natal. E o pior é que ele adorava isso. Ele e minha mãe formavam um time. E o cara ainda mandava bem na cozinha. E tinha um jardim. E me fazia fumar muito, de tédio.

Depois veio o B. Um gato. Lindo de morrer. Educadíssimo. Todas as minhas amigas ficaram horrorizadas quando o conheceram. “Muito gato esse cara”, “que sorriso”, “ai que inveja”, “como você tem sorte”. E isso alimentava a relação. Ele falava errado, escrevia errado. Não sabia o que era fuso-horário e ainda inventava versos de amor depois do sexo. O que me fazia fumar e dormir logo em seguida.

Ai conheceu o Jorjão. Pô. Parece até brincadeira. Jorjão. J-O-R-J-Ã-O. Cara de mau, mão calejada, braço naturalmente musculoso .Cheiro de homem. Não tinha jardim, não sabia cozinhar, não fazia poesia. Só de pensar ficava arrepiada. Foi ele que fez isso comigo. Foi ele que me deixou louca. Falava que me amava. Falava que achava feio uma menina tão linda fumar. Parei. Falava que eu era a menina mais linda que ele conhecia. Ele me chamava de menina. E eu, com quase 30, me sentia a própria menina nos braços daquele que veio e me roubou, me pegou pra ele e fez de mim o que quis. Porque eu deixei, claro... só porque eu deixei... até que um dia ele me disse que tinha acordado pensando em mim, e que era melhor “a gente parar de se ver porque eu já to saindo com outra “menina”. Aí eu deixei ele ir. E passei a fumar um maço por dia. Só de raiva do Jorjão

Cigarro II

Lurdinha tinha descido do ônibus, estava com pressa, atravessou a rua correndo e, ao virar a esquina trombou com Jorjão. Não o via há quase um ano. Ele a puxou pelo braço. Ela arrepiou toda, coração disparado, boca seca de susto- detestava sentir aquilo. Detestava Jorjão.
- Você continua linda, hem...
Coração disparado, boca seca, sangue no rosto
- Ta linda demais... cheirosa... À medida que ele se aproximava para sentir o perfume de seu pescoço, Lurdinha ia perdendo a força nas pernas e se entregava de novo ao abraço de Jorjão que, o-por-tu-nis-ta, lhe deu o seu melhor beijo.

...

- Bom te ver, menina. Te ligo qualquer dia.

E Lurdinha lá, parada no meio da rua, com cara de otária, olhando ele se distanciar sem nem olhar pra trás. Sem nem ter dito o nome dela. Será que ele lembrava do seu nome? Puta que paril.

Lurdinha , nervosa, quase tremendo, parou na banca e catou suas moedas no fundo da bolsa. Não dava pra comprar os dois. Então ficou em dúvida entre o chocolate e o cigarro.

Sentou no meio fio e, sentindo os carros que passavam na avenida, bem perto de seus pés, ficou ali, tentando assimilar o acontecimento.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

respiração

A vida, mesmo com tudo o que o corpo pode suportar, tem como limite o suspiro. Vejo um homem deitado na rua, apenas com um pé descalço, com a meia inteira e apenas um pouco suja. Só pela meia inteira e pouco suja já podemos imaginar coisas sobre ele: não é mendigo. Está deitado, com toda sua fronte colada no chão, mãos na testa, como quem precisa de um apoio para dormir melhor. Como dormir melhor no asfalto quente ? Não é mendigo. Só vemos suas costas, e seu pé sem tênis, com a meia pouco suja. É uma imagem que prende a minha atenção. Quero ver se ele está vivo. Quero ver se ele respira. Quero ver suas costas subirem e descerem, naquele movimento que indica que, apesar de tudo o que o corpo pode suportar, ainda há respiração.

(re)partida

Bella. Com dois eles. BeLLa. Cabelos castanhos, olhos cor de folhas com mel. Pele pêssego, boca morango, sorriso algodão. Uma coisa. Mas dentro daquela cabeça tão saborosa moravam fantasmas. Fantasmas que ela sabia que estavam ali, mas que tentava ignorar. Eram fantasmas inquietos, que insistiam em perturbá-la, dizendo que ela não pertencia ao mundo que ela via e que ela não era feliz e que ela tinha que ir com eles e ninguém te entende e ninguém te vê e você é fantasma também. Mas ela, beLLa, dizia que não. Que havia família, que havia amigos, que havia planos, que havia flores, havia sol. E os fantasmas riam dela. E ela tentava provar pros fantasmas que o mundo que ela via era real, era bom. E ela procurava. Achava o sol, achava as flores, tentava criar planos, tentava fazer amigos, e na família, só o pai. Aquele pai que carregava o mundo nas costas sozinho. E o mundo é muito pesado pra um pai carregar sozinho, não podia fazer isso com ele, tinha que diminuir aquele peso. E cadê os amigos? Não tem. E cadê os planos? Não tem. Só tem o pai. Nem mais sol, nem mais flores, só o pai, a dor de ser pesada e os fantasmas lá, sentados em sua cabeça, esperando por ela e rindo, mostrando que tudo é engano, que tudo é erro nesse mundo de carne, osso, pêssego, morango e algodão.

réquiem

Eles se conheceram na sétima serie da escola. Lá mesmo ele pediu pra casar com ela. Desde então já se passaram 9 anos.


O namorado de F acorda, num quarto de hospital vazio. Ele esta na cama. Não consegue articular um pensamento, chegar a alguma conclusão. Não sabe por que está ali. Fica quieto. Com certeza F. vai aparecer para explicar o que está acontecendo. E, segurando sua mão, ele sabe que pode enfrentar qualquer coisa. Desde que tenha a mão de F. para segurar. Espera. Dorme.

Acorda. Ainda sozinho. Sem nenhuma mão para segurar. Espera mais um pouco. Um médico, sua mãe segurando sua mão, e a notícia de que F. não virá. Não virá porque já não respira mais. Porque não existe mais nesse mundo de carne, osso, pêssego, morango e algodão.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O cubo, a esfera e a pedra

Não quero ser cúbica, cheia de faces que têm lugar pra começar e terminar e, quando viramos, é outra a face que se mostra. Não quero ter lados, não quero me apresentar numa posição que esconde o resto de mim. Metade escondida pela outra metade. Gosto do tudo, gosto do inteiro; gosto da possibilidade de ser esfera, e não ter um lado definido. Bate um vento, posso mudar de lugar, de cor de opinião. Querer e não querer; saber e não acreditar; ir e mudar de caminho; afirmar e questionar, dizer que sim, pensando não, dizer que não perguntando “por que não?” Essa esfera, rolando, é o que justifica a minha inconstância , a minha possibilidade de existir de maneira múltipla, sem compromisso nenhum com o estável, e nunca encontrar um lugar que me abrigue definitivamente.
*********
Não consigo parar de pensar na persongem do filme que, agustiada, dizia ter uma pedra em seu estômago, ou em algum lugar dentro dela, já nao me lembro bem. Quando ela falou isso eu percebi a pedra dentro de mim tambem. Essa pedra tem aparecido pra mim desde então. Já foi motivaçao pra escrita, já foi a pedra que provoca tudo aquilo que é sentimento extra-interior, ou seja aflições em geral (porque a aflição é uma coisa que a gente sente do lado de fora do lado de dentro, ela nao vem do coração... ela vem da pedra) , e agora aparece de novo. Essa coisa de esfera rolando... me faz pensar na rolling stone, e de novo a pedra vem, dessa vez rolando, mas ainda do lado de dentro...
(ps: O filme é "nome próprio". pra ver a pedra: http://nomepropriofilme.blogspot.com/)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Duo


Como tudo o que é relação de duas vias, há 50 por cento de um lado, 50 por cento do outro. Se há desequilíbrio, a relação é desigual e vira exploração ou se estabelece a posse.

Questionamento1: onde se estabelece a verdade? No fato em si ou na crença?

Na crença. A verdade existe pra quem acredita nela, e não no fato em si. Pois o fato ocorrido pode, até mesmo, não existir se não for contado. Uma vez não testemunhado e esquecido – ou guardado-, como considerá-lo? Por outro lado, um conto inventado, se crido, pode se tornar uma verdade tão verdadeira que o acontecimento se torna dispensável para a sua existência.

Questionamento 2: Como saber se o fato relatado é verdade ou não?

Se você acreditar, é verdade. Se não acreditar, não é. Simples assim.

Simples assim?

Cabe tudo dentro?

Como aprender, compreender, apreender a essência do que é infindável, do que é um poço sem fundo, ou um oceano sem o limite do horizonte? O que somos nós no mar de nós mesmos? E como apreender o mar do outro, ou dos outros, que também são aspirais infinitas de tudo que cabe dentro? Como podemos falar em certeza, se cada dia acordamos um e ,de repente, nossas convicções têm cara do que nunca vimos antes? Como saber? Não há como ser linear nessa vida, não há como ser sempre o mesmo todos os dias, porque os dias também são muitos, e são muitos os lugares.... de fora e de dentro...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Quando fugimos do que é nosso, passamos a acreditar em ilusão; a vivê-la como se verdade fosse aquilo que criamos, e não aquilo que é. Então surge uma disfunção orgânica; parece que o coração bate num ritmo que não é o nosso, parece que o ar que respiramos não é feito de oxigênio e sim de um gás outro que limita a nossa inspiração. Surge um peso no ombro. Porque a vida que estamos vivendo não é a nossa. E só é leve a vida que devemos viver; mesmo que seja difícil. A gente só encara com vitalidade a vida que nos pertence. O resto é teatro; é burocracia. É ralear o sangue e mudar de cor. É não entender o sentido das coisas.

domingo, 10 de agosto de 2008

Nostalgia

Tenho conhecido muitos caras por aí que andam muito românticos, sensíveis, idealistas.. todos boêmios, chorando no bar. Assim, vai todo muito morrer de spleen... e as virgens inalcançáveis vão continuar lá, inalcançáveis... e virgens....

Sou da old school!Cresci acostumada com caras que só chutavam a bunda de uma mina depois de darem, no mínimo, uma pegadinha nela. Aí vc vem com esse papo mole pra cima de mim, como se eu fosse alguém que precisasse desse tipo de cuidado...caralho...!

Que medo é esse de fazer de mim "só" mais um gozo? Será que um de nós - ou nós dois- realmente não daria conta de fazer um do outro "só" mais um prazer? Porque um prazer nunca é SÓ um prazer... e , no fim das contas, você me fudeu do mesmo jeito... antes tivesse me dado pelo menos mais um gozo...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

VHHHHHHHHHHHHHHHHHH (onomatopéia de um suspiro profundo)

Um pouco de subversão para cortar esse clima de emoções baratas....

Um trechinho: " Yes, there were times I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out
I faced it all and I stood tall
And did it my way"

(Sim, houve horas,eu sei que vc sabe,
Quando eu mordi mais que eu podia mastigar
Mas, entretanto, quando havia dúvidas
Eu engoli e cuspi fora
Eu encarei e continuei grande
E fiz do meu jeito)




Abismo (me)

Meus dedos agora ficam suspensos no ar com seu esmalte descascado, pois já não há encontro, não há boca, não há mais nada. Uma brisa bate fazendo -os esfriar e a correnteza quente de sangue não pode mais correr - mas corre.



***


Escondo meus sentimentos na multidão - multiplicidade de indivíduos múltiplos, porque ninguém é só um - pra ver se é possível estancar, como represa, o rio que vai em minhas veias. Na multidão, descubro que é vital que o rio continue correndo. Descubro também que esse fluxo só será saudável se seu curso for desviado. Então, nada de represa; apenas o desvio do meu rio, para fazer florescer outras margens...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cru


Arranco com alicate pedaços de meus dedos e pinto minhas unhas de vermelho para ver você. Pego seu rosto com meus dedos de unhas vermelhas e mordo a carne da sua boca para poder sentir seu gosto.