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Ela era linda. Maravilhosa. Não importava o que pensava; não importava o que fazia. Muito menos importava o que dizia. Quando ela abria a boca sua voz desaparecia e somente sua boca era vista. Boca vermelha, naturalmente vermelha e fofa. Daquelas que sempre dão vontade de dar uma mordidinha. Realmente era impossível prestar atenção no que ela trazia, porque o seu corpo, a sua imagem, ocupava o lugar de todo o resto que ela podia oferecer. E todo o resto simplesmente não interessava mais. Apenas a sua imagem bastava.
Todos diziam que ela poderia ser modelo. E ela sempre soube que, de fato, sua beleza tinha serventia. Mas ela queria usá-la apenas para si. Não queria usar o seu poder em troca de dinheiro, para o bem de terceiros. Porque, ao mesmo tempo, ela sabia que beleza não era nenhum valor de caráter. Ela nasceu com aquela cara, ela cuidava daquele corpo. E era tudo externo e sem querer. Não havia esforço. Portanto, não havia mérito.
Mas e os homens? Os homens a colocavam num pedestal. Ela ficava alta. Sempre inalcançável. Sempre acima do plano de todos. Sempre mais. Parecia que sempre se curvava a eles. E todos sempre demonstrando devoção àquela beleza altiva e sempre se distanciando dela por acreditarem que ela era, realmente, boa demais.
Mas e ela? Ela tinha o poder da sedução. Era um sorriso, uma piscadinha, e ela conquistava o mundo. Mas ela se sentia só. Porque ela queria SER conquistada. Ela queria um homem que tivesse a coragem de chegar até ela e acreditar que ali, dentro daquele corpo, havia algo bem melhor e mais valioso do que aquilo que podia ser visto. Mas isso não acontecia. Pois os homens têm medo de perder o controle... e todos se descontrolavam perto dela...
Um dia ela foi ao açougue. Distraiu-se vendo o açougueiro com aquela faca na mão destroçando as partes do boi. Que força. Que corte certeiro. Era preciso fazer um ângulo maior com o braço para que a força fosse suficiente. Afinal, era um boi; eram ossos, eram carnes, eram músculos... e era preciso tudo isso para poder cortá-lo em pedaços... e foi interrompida por ele que, num tom descontraído, porém malicioso, perguntou:
-Precisa de alguma coisa, princesa? Algum pedaço desse boi?
A pergunta foi seguida por um sorriso e por mais um corte exemplar de quase todas as habilidades daquele açougueiro.
Ela ficou lá, parada, como se aquela cena tivesse consumido todo o seu raciocínio. Sua boca um pouco aberta. Seus olhos brilhantes. E seu corpo quente com há muito não ficava.
Ele a olhou de novo. Ela continuava olhando para ele. Agora nos olhos. E ele entendeu tudo.
-Quer que manda entregar, rainha?
E foi assim; ela deixou seu endereço no açougue. E ele sempre vai lá, suado, sujo de sangue, entregar para ela o pedaço de carne que ela tanto desejou. E ele nem quer saber se ela é isso ou aquilo. Ele chega perto dela. Ele pega nela. Sem medo. Afinal, ele esquarteja bois...
Todos diziam que ela poderia ser modelo. E ela sempre soube que, de fato, sua beleza tinha serventia. Mas ela queria usá-la apenas para si. Não queria usar o seu poder em troca de dinheiro, para o bem de terceiros. Porque, ao mesmo tempo, ela sabia que beleza não era nenhum valor de caráter. Ela nasceu com aquela cara, ela cuidava daquele corpo. E era tudo externo e sem querer. Não havia esforço. Portanto, não havia mérito.
Mas e os homens? Os homens a colocavam num pedestal. Ela ficava alta. Sempre inalcançável. Sempre acima do plano de todos. Sempre mais. Parecia que sempre se curvava a eles. E todos sempre demonstrando devoção àquela beleza altiva e sempre se distanciando dela por acreditarem que ela era, realmente, boa demais.
Mas e ela? Ela tinha o poder da sedução. Era um sorriso, uma piscadinha, e ela conquistava o mundo. Mas ela se sentia só. Porque ela queria SER conquistada. Ela queria um homem que tivesse a coragem de chegar até ela e acreditar que ali, dentro daquele corpo, havia algo bem melhor e mais valioso do que aquilo que podia ser visto. Mas isso não acontecia. Pois os homens têm medo de perder o controle... e todos se descontrolavam perto dela...
Um dia ela foi ao açougue. Distraiu-se vendo o açougueiro com aquela faca na mão destroçando as partes do boi. Que força. Que corte certeiro. Era preciso fazer um ângulo maior com o braço para que a força fosse suficiente. Afinal, era um boi; eram ossos, eram carnes, eram músculos... e era preciso tudo isso para poder cortá-lo em pedaços... e foi interrompida por ele que, num tom descontraído, porém malicioso, perguntou:
-Precisa de alguma coisa, princesa? Algum pedaço desse boi?
A pergunta foi seguida por um sorriso e por mais um corte exemplar de quase todas as habilidades daquele açougueiro.
Ela ficou lá, parada, como se aquela cena tivesse consumido todo o seu raciocínio. Sua boca um pouco aberta. Seus olhos brilhantes. E seu corpo quente com há muito não ficava.
Ele a olhou de novo. Ela continuava olhando para ele. Agora nos olhos. E ele entendeu tudo.
-Quer que manda entregar, rainha?
E foi assim; ela deixou seu endereço no açougue. E ele sempre vai lá, suado, sujo de sangue, entregar para ela o pedaço de carne que ela tanto desejou. E ele nem quer saber se ela é isso ou aquilo. Ele chega perto dela. Ele pega nela. Sem medo. Afinal, ele esquarteja bois...
9 comentários:
Com que força não deve ter quando lhe pega a cintura...insinuante!
Muito interessante!
Sem contar a conotação sexual!
E a idealização da mulher!
Super romântico!
Lindo, adorei !
Beijos !
Sinistro...
odeio ler esses textos e não conseguir comentar nada...
tipo...
putz...
esquece... melhor não falar nada do que falar merda...
vai ficar aberto aqui pra eu ler o resto do blog...
ps: desculpa a demora, porém eu não dei o calote...
Esta é uma discussão que envolve boas reflexões. Por exemplo, qual o mérito de uma pessoa em nascer bonita, moldada para o sucesso que demanda um rosto e um corpo bonitos?
De todo modo, o texto é ótimo, feito com notável habilidade. É uma ótima referência à beleza e à sensualidade da mulher.
Até mais!
Surpreendente. E, que coincidência, meu último post fala de uma suposta beleza feminina.
Abraços!
Fantástico!
eu pensei que havia entendido antes de ler novamente.
Mas já havia entendido antes...
uma mulher que anseia que sua beleza seja destroçada pelas mãos de um açougueiro...
quando a beleza é um muro ao amor.
falou tudo!
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