Com os pés na grama, sentada, observando a paisagem do mirante, vendo a cidade inteira como se eu não coubesse dentro dela, vejo sua figura surgindo, como se a cidade me oferecesse você. O vento bate no meu rosto. Olho pra você, com olhos desconfiados, sem acreditar no que vejo: você. É bom demais pra ser verdade. Você que vive tão longe, você que vive numa memória tão distante. Você que não me conhece, mas sabe que eu sonho com você. Você e os seus olhos grandes, cor de açúcar queimado. Não acreditei quando te vi. Mas você não me viu, e se sentou de costas pra mim, para observar a mesma cidade que eu via. Olhávamos para o mesmo lugar. Mentira. Eu agora não olhava mais pra cidade. Olhava pra você. Podia ver o osso da sua coluna sob a blusa branca. Aquilo te fazia mais real. Eu me perguntava que cheiro era o seu. E pensava em toda a história que eu vivi sozinha, com você dentro de mim. Então resolvi ir embora. Por que eu já estava cansada de pensar em você. Decidi desistir de tudo. O caminho era um só, e eu teria que passar por você, que me veria – se visse- somente de costas. E eu não olharia pra trás para ver seu rosto. Eu simplesmente seguiria. Mas você me chamou. Disse: ei, você. E meu coração disparado na boca, quase me fazendo desabar, porque nessa hora eu não senti o chão. Fiquei arrepiada, tonta, quente e cega. Mas me virei. E você, já em pé, vinha em minha direção. Com os seus olhos grandes me olhava fundo e ria pra mim. Eu sei quem você é, disse me dando um abraço. E o abraço deu sequência a um beijo que acontecia enquanto a brisa batia em nossos rostos quentes e eu realizava aquele sonho que há tantos anos eu guardava no coração. Só não consegui sentir seu cheiro.
domingo, 21 de março de 2010
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